A professora Lisete Arelaro, única mulher registrada para disputar a eleição para o Governo do Estado de São Paulo em 2018, estará em Assis nesta quinta-feira, dia 9 de agosto.
Lisete é professora universitária e participou da secretaria municipal de educação em São Paulo com o então secretário Paulo Freire, na gestão Luiza Erundina. Foi duas vezes secretária de educação em Diadema e diretora da Faculdade de Educação da USP. Ela teve seu nome homologado como candidata a Governadora de São Paulo na Convenção Estadual do PSOL – Partido Socialismo e Liberdade -, realizada no dia 28 de julho. O candidato a vice, também do PSOL, é Maurício Costa.
Com o evento ‘Roda de Conversa sobre Educação, Cultura e Saúde como Políticas Públicas de Direito’, a professora Lisete Arelaro estará debatendo vários temas com diferentes profissionais e ativistas de políticas públicas nas dependências da Câmara Municipal de Assis, nesta quinta-feira, dia 9, a partir das 19 horas.
Lisete Arelaro é pesquisadora e docente na área de Educação, com ênfase em Política Educacional, dedicando-se, principalmente, aos seguintes temas: política educacional, administração de sistemas educacionais e escolar, planejamento e avaliação educacional, municipalização do ensino e financiamento da educação.
PROTESTO – Recentemente, a professora Lisete Arelaro escreveu um artigo para protestar contra a decisão da direção da RTV Cultura de não permitir que ela participe de uma série de debates promovidos pela emissora com os candidatos ao Governo do Estado de São Paulo. Leia:
Um retrato da mídia contra as mulheres na política
Há pouco tempo atrás, ainda no século XX, pensar que uma mulher poderia ocupar espaços de poder na política era algo inimaginável para a maioria da população. Felizmente, décadas de luta das mulheres por direitos, liberdade, igualdade e representatividade mudaram esse quadro e hoje a pauta do protagonismo feminino é evidente em todos os espaços. Nas eleições deste ano, a participação das mulheres e a identificação com a pauta feminista é tema de destaque.
Aos que ignoram essa presença e este debate vejo duas possibilidades: uma alienação completa aos temas da atualidade ou uma ação intencional pela manutenção da supremacia masculina, sobretudo nos espaços de poder e decisão.
Parte da imprensa paulista parece se alinhar com esse segundo grupo. Pretendem falar de política e dos acontecimentos fingindo que a desigualdade de gênero não existe. Pior ainda, reproduzindo-a.
A direção da TV Cultura, uma rede pública de televisão, decidiu me deixar de fora da sua série de entrevistas no programa Roda Viva com os pré-candidatos ao governo de SP, mesmo sendo a única mulher pré-candidata. O mesmo Roda Viva que protagonizou o deplorável espetáculo de machismo e preconceito contra a pré-candidata à presidência da República, Manuela D’Ávila.
Recentemente, essa política de exclusão já tinha sido feita pelo SBT, Folha de S. Paulo e UOL que não me convidaram para sua série de sabatinas, realizadas durante o mês de maio. Além de única mulher, sou pré-candidata pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), um partido que tem feito um destacado, corajoso e importante enfrentamento à velha política, à reprodução das desigualdades e à retirada de direitos por meio de seus representantes nas casas legislativas. Penso ser importante, contudo, apontar alguns aspectos que legitimam a minha presença na cobertura do processo eleitoral do estado de São Paulo.
Vale lembrar que no campo jurídico, mais especificamente no campo da justiça eleitoral, está previsto que todos os partidos deverão ter, no mínimo, 30% de candidatas mulheres. Além disso, os recursos financeiros e o tempo de TV destinado às mulheres também deve respeitar, no mínimo, essa proporção. O que fundamenta essas determinações legais é a constatação da sub-representação das mulheres nos espaços de poder e a pressão das mulheres por ações afirmativas que busquem enfrentar o machismo. Em uma democracia se faz imperativo a presença e representação das mulheres.
Uma retrospectiva rápida nos mostra que no Brasil e no mundo as mulheres tem protagonizado lutas e resistência, provocando mudanças e reflexão sobre as estruturas machistas que nos permeiam nos espaços privados e nos espaços públicos. Tratam-se de lutas que interferem decisivamente na história de seus países, como podemos lembrar da importância das mulheres na derrubada do deputado Eduardo Cunha ou da presença das mulheres nas categorias que resistiram à Reforma da Previdência, assim como a gigantesca mobilização das mulheres argentinas em defesa da legalização do aborto e a Marcha das Mulheres contra Trump nos EUA e em outros países.
O assassinato brutal da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro mostrou de forma trágica que o racismo, o machismo e a lesbofobia seguem fortes e presentes no Brasil. Uma mulher negra, vinda da favela da Maré, lésbica e de esquerda não foi tolerada no espaço de poder dos homens brancos e poderosos. Não foi tolerada no meio interno da política por defender os direitos humanos, por defender vidas negras, vidas pobres, vidas LGBTs e enfrentar a violência sistêmica carioca. Talvez pelo mesmo motivo, vale destacar que Marielle não foi amplamente conhecida do grande público enquanto viva por essa atuação. Quantos jornais, quantas emissoras, quantos sites destacaram sua eleição, sua atuação na Câmara do Rio, seus enfrentamentos e sua coragem neste ambiente hostil às mulheres que é a política? Que efeito importante tem a repercussão da atuação de vereadoras como Marielle para a formação política de nossas mulheres, nossa juventude?
Marielle ficou nacionalmente conhecida por sua trágica morte. Mas Marielle segue presente em cada uma de nós. E segue espantoso que passados mais de 100 dias de sua execução sem nenhuma resposta, parte da imprensa segue ignorando os mecanismos de exclusão das mulheres – sobretudo as negras – dos espaços públicos.
Por fim, o suposto critério adotado pelos veículos de comunicação citados – de convidar apenas os quatro melhores posicionados nas pesquisas – para as entrevistas escanteia justamente os candidatos com propostas alternativas, fora do rol tradicional da política e dos discursos e práticas tão conhecidas – e recorrentemente desaprovadas – de nossa população. No caso em especial da TV Cultura, nem mesmo esse argumento se sustenta, uma vez que segundo a última pesquisa Ibope estou empatada tecnicamente em terceiro lugar.
Pode-se afirmar que há um desejo de ver a política de forma diferente, de ver novas representantes, de renovação de práticas onde “não seja tudo igual”. Porém, com medidas como estas a mídia justamente mantém o espaço já conquistado de figuras com grande exposição por eleições anteriores, cargos no governo etc. A imprensa neste sentido age na contramão de um direito humano, que é o direito ao acesso à informação. É o machismo aliado ao esforço de inviabilizar partidos pequenos e aguerridos que travam batalhas importantes contra os grandes partidos da ordem.
É urgente a discussão sobre a promíscua relação das empresas de comunicação com políticos e partidos da ordem, mais grave ainda, em se tratando de empresas públicas. É urgente a discussão da perpetuação das desigualdades de gênero na grande imprensa. O Brasil está na lanterna (161ª posição) de um ranking de 186 países sobre a representatividade feminina no poder executivo, atrás de todos os outros países do continente americano. É preciso assegurar uma maior participação das mulheres na política e os meios de comunicação podem e devem também contribuir para isso. Estamos atentas e vamos ocupar todos os espaços da política, enfrentando o machismo estrutural e violento que atua em nossa sociedade.
A professora Lisete Arelaro é candidata ao Governo de São Paulo