MEMÓRIA MARIANA: ‘Ziza’, o atacante revelado no VOCEM e negociado com São Paulo

onde anda ziza com foto

No final da década de 70, Egesiel Silva Junior, o ‘Ziza’, com cerca de 10 anos de idade, era apenas um menino, mas já beirava o ‘campão de terra’, perto de sua casa, situada na rua Cândido Mota, e próximo ao temido buracão da vila Operária.

Do barranco, ou atrás da trave, na rua André Perine, ele se deliciava ao assistir, no chão duro de terra batida, as jogadas de alguns atletas já profissionais. “Ali, eu vi jogar Paulinho, Dema, Zequinha, Gersinho, Pelé, Roseta, Ditinho Leitoa, Dilson Rosseto, entre outros conhecidos ou simples trabalhadores anônimos, que ‘rachavam’ todo final de tarde, naquela área onde hoje funciona o Posto Park Buracão“, relembra.

Aquilo foi a minha raiz. Minha inspiração para o futebol“, faz questão de iniciar a entrevista, aquele que seria, pouco tempo depois, o garoto promissor do VOCEM a ser negociado com o São Paulo Futebol Clube, clube da capital.

Ziza não perdia uma oportunidade para entrar no ‘racha’ do final de tarde, quando sobrava uma vaga e era chamado. “Eu era pequenininho, mas não recusava um convite para entrar. Tinha gente de chuteira, de tênis e até descalço. Nunca vio ninguém se machucar“, se recorda.

Desde o começo de carreira, o pequeno ‘Ziza’ sempre se interessou em ‘jogar na linha’, e justifica: “Meu negócio sempre foi tentar marcar gol“, resume.

Nas décadas de 70 e 80, a Prefeitura realizava vários torneios de futebol para categorias menores. “Não haviam escolinhas de clubes. Eram times formados em vilas“, se recorda ‘Ziza’, chamado para jogar no ‘poderoso’ Bayer, comandado pelo Sargento Dirceu.

Aquele time, de fato, durante muitos anos, foi uma potência.

Ganhava tudo o que disputava e sempre representava Assis nas fases regionais do Campeonato Estadual ‘dente de leite’.

Aos 16 anos, com idade para disputar a categoria ‘dentão’, Ziza foi para a Associação Atlética Ferroviária, do treinador Euclides Francisco da Costa, o ‘Cridão’.

Foi nesse ano, 1984, que o mundo mudou para ‘Ziza’.

O VOCEM tinha um time profissional fortíssimo, que chegou ao quadrangular final da Divisão Intermediária, ficando muito perto da elite do futebol paulista.

Para disputar o profissional, os clubes, obrigados pela Federação Paulista, tinham que formar uma equipe juvenil. Geralmente o time júnior não recebia nenhum apoio do clube. “Valia mais a vontade e o interesse do técnico“, se lembra o gráfico aposentado e treinador ‘Cridão’.

A falta de uma das pernas, o uso de uma prótese de madeira e as muletas não eram impedimento para o desejo de Cridão em ser técnico e futebol.

Ele ‘corria’ atrás de tudo.

Desde o uniforme, bolsa de massagem, documentos e ainda tinha que treinar, escalar e comandar a equipe em campo.

Várias vezes, Cridão também foi obrigado a ser massagista, tendo que entrar em campo com as muletas e carregando a bolsa com remédios e a famosa ‘água santa’.

Em 1984, Cridão recebeu o convite para dirigir o juvenil do VOCEM e convidou ‘Ziza’ para um amistoso contra o Leblon.

‘Ziza’ não sabia. Nem ‘Cridão’. Mas o técnico do profissional, Valter Zaparolli, estava na arquibancada e assistiu ao jogo.

Quando ‘Ziza’ voltava para o vestiário, após ter marcado o gol da vitória do ‘marianinho’, ele foi abordado pelo astuto treinador. “Você já está registrado no VOCEM?“, perguntou.

O menino ‘Ziza’, tímido, respondeu que apenas convidado para aquele jogo.

Zaparoli pegou ‘Ziza’ pelo braço e foi ao vestiário, à procura do técnico ‘Cridão’.

Ei professor, esse menino está registrado?”, repetiu a pergunta.

‘Cridão’ alegou que não tinha feito documento de ninguém ainda.

Pode inscrever esse menino. Ele tem futuro!“, profetizou Zaparolli.

Mal sabia o pequeno ‘Ziza’ que, mesmo com 16 anos, sua estreia oficial com a camisa do ‘Esquadrão da Fé’ seria, justamente, no time profissional, onde ele participava de alguns treinamentos para ‘completar o time reserva’.

Eu, assim como todos os jogadores, estávamos na missa do padre Aloísio. Após a benção final, o técnico Zaparoli veio em minha direção e ordenou. ‘Avise seu pai que irei precisar de você’. Saí da igreja e fui, correndo pra casa. Avisei meu pai e corri para a pensão da ‘dona Miquelina’, onde o time estava concentrado“, se recorda.

‘Ziza’ foi relacionado para o jogo contra o Bandeirante de Birigui e estreou, aos 16 anos de idade, quando eram decorridos 35 minutos do segundo tempo. “O VOCEM venceu aquele jogo por 4 a 1. Foi a minha estreia oficial como jogador de futebol“, se recorda, com detalhes.

O VOCEM, naquela noite, em jogo disputado no estádio da Ferroviária, entrou em campo com: Bertoza, Betão, Renatão, Nilson Andrade e Wilson Lopes; Vanderlei, Valmir e Da Silva; Gazola, Itamarzão e Itamar Mineiro. “Como o atacante Marco Aurélio passou mal na concentração, o professor me convocou para ficar no banco“, explica ‘Ziza’.

Ainda no transcorrer da temporada, Zaparoli orientou o pai de Ziza, o policial rodoviário Egesiel Silva, a levar o filho para uma avaliação no Centro de Treinamento do São Paulo Futebol Clube. “Vai lá. Vou abrir as portas do Morumbi para ele“, ordenou Zaparoli.

ziza juvenil

Ziza (com a bola) no juvenil do VOCEM

DEPOIS – Ainda com 16 anos, idade de categoria ‘infantil’, Ziza chegou ao São Paulo para um período de avaliação, que deveria durar um mês.

Passados alguns dias, a diretoria do São Paulo entrou em contato com o VOCEM e concretizou a negociação.

Não sei como foi a transação. Sei que o São Paulo cedeu alguns jogadores ao VOCEM e realizou um amistoso do time chamado ‘Expressinho’, em Assis, com toda a renda revertida ao clube mariano“, se lembra.

No São Paulo, ‘Ziza’ foi campeão paulista nas categorias infantil e juvenil nos anos de 1985 e bicampeão júnior em 1986 e 1987.

Paralelamente às participações nas equipes de base, Ziza sempre era relacionado para atuar no ‘Expressinho’, uma equipe formada pela diretoria do Tricolor para realizar amistosos pelo país e manter os muitos atletas que tinha no elenco em atividade.

‘Ziza’ começou a ser relacionado para a equipe principal em 1987, quando o técnico era Cilinho.

Naquela temporada, Ziza jogou 12 partidas no time profissional, tendo concluído o ano com mais um triunfo: Campeão Paulista da primeira divisão.

Ziza se lembra de uma ‘inacreditável coincidência’. “Minha estreia no São paulo foi, justamente, contra o Bandeirante de Birigui, repetindo o que havia ocorrido VOCEM, três anos antes“, conta o atacante.

O time do São Paulo na estreia de Ziza foi: Gilmar, Zé Teodoro, Oscar, Dario Pereira e Nelsinho; Bernardo, Silas e Pita; Muller, Careca e Edvaldo.

Terminada a temporada vitoriosa de 1987, a diretoria do São Paulo emprestou o atacante ‘Ziza’ para o Corinthians de Presidente Prudente, em 1988.

Depois de Prudente, ‘Ziza’ foi para o futebol mineiro atuar no Fabril de Lavras, onde disputou o campeonato de 1989.

No final daquele ano, Ziza foi envolvido numa troca com o atacante Elivelton, que foi para o Morumbi e, depois, passou por Corinthians e Palmeiras, até chegar à Seleção Brasileira.

Na troca, o centroavante ‘Ziza’ foi cedido para o Esportivo-MG, onde disputaria o campeonato mineiro de 1990.

No ano seguinte, ‘Ziza’ voltou ao futebol paulista para formar dupla de ataque com outro assisense, Vidotti. Juntos, eles foram artilheiros da Francana.

Na temporada 1992, ‘Ziza’ defendeu o Sertãozinho, em São Paulo, e o Americano de Campos, no Rio de Janeiro.

No ano seguinte, o atacante voltou ao futebol paulista para atuar no Jaboticabal.

Em 1994, Ziza chegou a ser contratado pelo Bragantino, mas como não pôde atuar por ter se apresentado fora do perídio de registro na competição, acabou sendo repassado a outro clube da família Chedid: o Serra Negra, onde ele decidiu encerrar a carreira ao final da temporada.

Estava muito difícil sustentar a família com dinheiro do futebol. A situação financeira dos clubes de interior era muito precária. Ficava cada vez mais difícil receber todos direitos trabalhistas. Alguns clubes pagavam a indenização pela rescisão de contrato com cheques e muitos deles voltavam do banco, sem fundos“, relata.

ziza são paulo

Ziza com a camisa no São Paulo, em jogo no Morumbi

PÓS FUTEBOL – Em conversa com a esposa, ‘Ziza’ decidiu mudar de vida.

Abandonou os gramados e foi estudar.

Em Marília, cursou e se formou em Direito.

Paralelamente ao estudos, iniciou uma atividade profissional no ramo de transporte de cargas.

Comecei a trabalhar numa transportadora. Logo, assumi a gerência empresa e fui transferido para Ribeirão Preto, onde fiquei na empresa vários anos“, conta ‘Ziza’.

Depois, recebeu o convite para ser diretor comercial de outra transportadora, até conseguir capital para montar sua própria empresa.

Desde 2.016, tenho minha empresa, minha frota e continuo no ramo de cargas de açúcar para exportação“, completa o empresário.

FAMÍLIA – Morando com a família na cidade de Jardinópolis, próximo de Ribeirão Preto, Egesiel Silva Júnior está comemorando 30 anos de matrimônio com Viviane.

Eles têm um casal de filhos. Tayná é formada em Direito e possui uma marca de confecções e bonés. Gustavo também é formado em Direito e dedica-se à carreira jurídica.

Esse é um pequeno resumo da trajetória de uma das maiores revelações do VOCEM de Assis para o futebol profissional: Egesiel Silva Júnior, o ‘Ziza’, terá sempre o seu nome gravado na história do ‘Esquadrão da Fé’, que acaba de completar 66 anos de fundação.

ziza e família

Egesiel Silva Júnior com a família mora em Jardinópolis

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