Dando sequência a série de jogadores que fizeram história com a camisa do VOCEM e não estão mais residindo em Assis, a coluna ‘Memória Mariana’ desta semana contará um pouco da trajetória de Marquinhos Galiano, atleta revelado aos 19 anos e que teve a carreira interrompida aos 27 anos de idade, quando levou numa bolada na cabeça durante uma partida e sofreu um edema cerebral. Ele estava no Atlético Sorocaba e tinha uma proposta oficial de transferência para Portugal, onde defenderia o Porto.
ONTEM – Marcos Antônio Galiano Júnior herdou do pai ‘Marcão Galiano’ a paixão pelo futebol. O pai era árbitro e chegou a atuar pelo time veterano do São Paulinho de Assis, mas morreu sem ver o filho atuando num time profissional.
‘Marcão’ teve uma morte trágica, num acidente na rodovia Raposo Tavares, quando voltava do trabalho na Usina Pau D’alho, em Ibirarema.
Anos depois, em 1986, o filho que herdou seu nome, estreava no VOCEM. “Só me lembro que era reserva no time juvenil, do técnico Cridão, mas sempre assistia os treinos da equipe profissional. Numa tarde de coletivo, no Marcelino de Souza (estádio), faltou jogador para completar o time reserva. O saudoso supervisor Luís Vilela me conhecia e pediu autorização do técnico Nenê para eu treinar”, conta Galiano, do pouco que ainda consegue se lembrar.
“Sei que o Nenê (técnico) gostou do meu futebol e logo fui promovido. Em algumas semanas, eu já estava atuando como titular no time. Era um volante avançado que gostava de ir ao ataque e concluir a gol”, se auto descreve.
A memória, em razão de um acidente de trabalho sofrido em 1993, não lhe permite lembrar como foi sua estreia e nem sua melhor atuação com a camisa bordô e branca. “Só me recordo de uma partida em Assis que marquei um gol e a torcida começou a gritar ‘Galiano, Galiano’. Me lembrei do meu pai e passei grande parte do jogo enxugando as lágrimas”, se emociona Marquinhos.
Ao final da sua primeira temporada como profissional, Marquinhos foi emprestado para o Grêmio Maringá, onde disputou o Campeonato Paranaense. Disse ter recebido algumas propostas, não aceitas por seu empresário.
Em 1987, voltou ao VOCEM, atuou várias partidas, mas a concorrência com Aguinaldo, o ‘Guina’, (vindo do Santos e São Bento), era muito grande.
Mesmo assim, ele acabou sendo titular em alguns jogos.
Foram apenas dois anos vestindo a camisa mariana, mas Galiano possui uma história que, até hoje, é contada pelos mais antigos torcedores.
CARREIRA – Do VOCEM, Marquinhos Galiano passou por vários clubes do país e acredita ter faltado ‘sorte’ por não acertar os melhores contratos.
Atuou pelo Linense (1988) e Catanduvense (1989 e 1990). Teve passagens pelo Iguaçu de União da Vitória-PR, onde ganhou o prêmio ‘Corujinha’, oferecido aos melhores da temporada.
Chegou a se transferir para o Botafogo do Rio de Janeiro, onde treinou várias semanas, mas o contrato não foi assinado e teve que retornar ao Catanduvense.
Em 1991, passou pelo Lençoense e Caxias-RS.
Recém casado, Marquinhos levou a família para o sul do país.
Surgiu uma proposta do Grêmio de Porto Alegre para disputar uma competição nacional, mas a família não conseguiu se adaptar e ele preferiu voltar para Catanduva.
Em 1992, chegou a realizar uma pré-temporada no Corinthians Paulista, em Atibaia, mas o valor da proposta lhe fez recusar o contrato e acertar um vínculo com o Atlético de Monte Azul. “O time do interior pagou mais do que o clube da capital me ofereceu”, garante.
No último ano de carreira, 1993, ele era titular do Atlético Sorocaba quando, numa partida contra o Comercial de Tietê, num lance de ataque, levou uma bolada na cabeça. “Foi uma pancada muito forte na nuca, atrás da orelha, mas continuei jogando até o final”, se lembra.
Após o jogo, quando estava no Terminal Rodoviário para viajar a Catanduva, chegou uma ambulância. “A diretoria pediu para levar você num hospital fazer um exame mais detalhado na sua cabeça”, explicaram.
Os exames mostraram uma grave lesão -edema cerebral-. O grave diagnóstico lhe obrigou a encerrar a carreira como atleta profissional de futebol, aos 27 anos de idade, e perder uma proposta do futebol europeu já quer tinha um acerto para se apresentar ao Porto de Portugal. “Não sou frustrado. Agradeço a tudo o que Deus me deu no futebol”, ressalta.
PRESENTE – Desde que abandonou a carreira, Marquinhos Galiano mora em Catanduva. Mesmo com o grave problema, se arriscou por alguns anos jogando como atacante na várzea e disputando o Campeonato Amador para ganhar um dinheiro e sustentar a família. “Já imaginou um centroavante que não cabeceia? Era eu!”, brinca.
Cursou Educação Física e tornou-se bacharel em Direito. “Não gosto de ficar preso num escritório”, se justifica, por não seguir no ramo do Direito.
Marquinhos Galiano, atualmente, aos 53 anos de idade, trabalha como ‘motofretista’ no transporte de exames para a Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto, cidade próxima a Catanduva.
Está no segundo casamento. Possui um casal de filhos: Mayara, de 29 anos, é advogada e Matheus está concluindo o Curso de Direito.
“Tenho vontade de voltar ao futebol, mas o custo para ser treinador profissional é muito alto. Ainda vou ‘cavar’ meu espaço, assim como fiz para ser jogador”, conclui Marcos Antônio Galiano Júnior, uma das revelações do futebol de Assis que defendeu o VOCEM.
Marquinho Galiano foi volante do VOCEM em 1986 e 1987