Não seria exagero dizer que as eleições presidenciais no Brasil, este ano, foram um confronto acirrado entre posturas democráticas e autoritárias. Uma das evidências disso é o realinhamento ideológico internacional de apoio aberto ou velado aos candidatos. Nessa tela, os nomes dos presidenciáveis aparecem como figurantes de filmes hollywoodianos.
O gesto de reconhecimento de legitimidade dos resultados das eleições presidenciais foi emblemático. O governo dos Estados Unidos foi um dos primeiros a declará-lo. A partir daí, as manifestações seguiram-no por efeito gravitacional. Blindagem, diante de eventuais estupradores.
Sabe-se que, no descontínuo processo civilizatório, uma das tarefas mais ingentes é a luta contra formas autoritárias nas relações cotidianas. A vontade de poder, inerente à condição humana, torna a missão ainda mais ingrata. Popularizando Hobbes, é o mesmo que dizer: “Para conhecer uma pessoa, basta dar-lhe poderes, logo o bicho (lobo) se revela”.
A experiência do dia-a-dia está farta de exemplos. Nas famílias, nas igrejas, nas escolas, enfim, no cotidiano, observam-se formas mais sutis e grotescas de autoritarismo. Pior de tudo, é que, em regra, revestem-se de discursos religiosos puritanos, recheados de preconceito e discriminação de toda ordem.
Nos diálogos entre pessoas, expressões arbitrárias fluem facilmente. Exemplos não faltam: “faça isso”, “saia daqui”, “cale a boca”, “vá logo”, “sente-se aí”, etc. O uso de formas imperativas é praxe e socialmente, ainda, aceito.
Mas há as mais sutis. Que quase sempre, passam desapercebidas. Lembremos daquela postura professoral: “vocês entenderam que eu disse?” Claro, se não entendeu é “burro”, eis a inferência. É como se as pessoas fossem obrigadas entender a confusão mental do locutor. Se são incapazes disso, o animal paga o pato.
Não seria mais elegante e respeitoso dizer: “-Fui claro? Consegui me fazer entendido? Fui capaz de ser claro?”. Contudo, posturas autoritárias arraigadas à nossa cultura ainda prevalecem como matriz.
Caso se queira construir uma sociedade cidadã, precisa-se reeducar nossa linguagem. Evitar expressões e gestos autoritários é tarefa urgente. Sem isso, nada há de se esperar, muito menos da política. Mosca varejeira nasce no estrume; políticos corruptos e autoritários, na sociedade (família, igreja, escola etc.).
Enfim, o autoritarismo sobrevive como sombra, às vezes, assustadora, como tem sido nesses quatro últimos anos. Persegue, de forma tenaz, a jovem democracia. Qualquer oportunidade, que surge, está sempre pronta para massacrá-la impiedosamente.
Viva a Democracia!!!
Rubens Galdino da Silva Jornalista (MTB/SP 32.616) e professor