O crescente registro de violência em todas as áreas da sociedade, e, agora, também envolvendo adolescentes, fez-me recordar um caso com colega da minha turminha de escola. Éramos quatro ou cinco da mesma turma, moradores do mesmo bairro da periferia, e íamos juntos à aula.
Foi assim. Passávamos pela praça da matriz, quando um engraxate mexeu com o grupo, como fazia sempre que passávamos por ali. O mais calado do grupo, um menino introspectivo, até afável em seus silêncios e mistérios, tirou o canivete do bolso e furou duas vezes a barriga do engraxate. Afastou-se de nós e seguiu por outra rua até a escola.
Na classe, ainda cochichávamos nosso espanto quando vieram buscar o menino. Pelo vitrô, vimos os pais dele entrarem com a polícia no ginásio. A mãe chorava convulsivamente, rosto fundado em um pano de pratos.
Desde então, toda vez que um jovem comete um crime – e como isso se banalizou –, a primeira imagem que me vem à mente é a desbotada figura daquela mãe em lágrimas.
Tempos atrás, na cobertura de uma audiência no Fórum da cidade, na qual jovens de classe média foram interrogados sobre apreensão de drogas em festa chique, vi a cena se repetir. Mãe em lágrimas. A diferença é que não havia pano de pratos. Era um delicado lenço de seda, seguramente comprado em viagem ao exterior. Mas, a dor que fluía do peito às lágrimas, certamente tinha a mesma intensidade daquela que a outra mãe, lá no longe do tempo e da classe social, experimentara.
O crescimento da violência envolvendo adolescentes tem-me levado a uma reflexão dolorida sobre educação, relações humanas e sociais, sem que eu consiga neutralizar o medo que está instalado no peito. Creio que as escolas poderiam planejar debates e avaliações nas salas de aula para despertar o interesse dos alunos sobre essa situação.
Os professores poderiam interromper por minutos o conteúdo didático oficial e comentar notícias dos jornais sobre violências praticadas por adolescentes. Com isso, certamente provocariam a necessária e oportuna reflexão dos alunos, sobre a mais aguda das dores, a de mãe, quando provocada por filho.