Verde ainda na profissão, fui entrevistar o senador Teotônio Vilela, de Alagoas, que visitava São Paulo. Cabelos ralos pela quimioterapia, revigorado pelas pregações em defesa da redemocratização, ali estava, sereno, um dos símbolos da luta pela anistia e pelo resgate dos direitos políticos dos brasileiros.
Teotônio, todos sabem, era usineiro nordestino, uma classe que minha juventude enxergava como moedora de cana e de gente. E foi esse o tom que tentei dar às perguntas. Com ridícula pretensão, provoquei-o sobre sua “sinceridade na conversão à democracia”, já que entrara na política pela Arena, o partido da Ditadura Militar e dos torturadores de oposicionistas. Ganhei discreta repreensão de um assessor dele.
O menestrel das Alagoas, como era chamado na música de Fernando Brandt e Milton Nascimento, interrompeu o assessor:
– Todo político precisa de repórteres incisivos. É um bom teste. Se o político não responde à altura, todos dirão: ‘Viu a pergunta que o repórter fez ao Teotônio?’ Agora, se a resposta é boa, o comentário muda:
Viu a resposta que o Teotônio deu para o repórter?’
Virou-se para o foquinha pretensioso e incentivou:
– Pergunta, meu filho. Pergunta mais.
Dia destes, vi um vereador bater o telefone e interromper a entrevista que dava a um repórter. Justificou-se dizendo que o repórter só lhe fazia perguntas contrárias às ações do seu grupo partidário. Sondou em mim alguma solidariedade, mas não obteve o que esperava, evidentemente.
O homem público não é pessoa comum, movida a sentimentos pessoais. O cidadão comum pode ter os nervos à flor da pele em determinadas circunstâncias. Ao homem público, no entanto, isso não cabe, jamais. Deve despir-se de suscetibilidades.
Como disse Teotônio, naquela oportunidade, toda vez que um repórter pergunta algo a um agente público, é a sociedade que aguarda a resposta.
Isso traz à baila, também, uma frase do ex-ministro da Justiça, ex-secretário de Estado e senador, Aloysio Nunes, na inauguração de um jornal, onde trabalhei, em São José do Rio Preto:
– A imprensa é a onda na qual o político surfa ou afunda.
Depende da competência para enfrentar quaisquer tipos de perguntas. E de jornalistas.
Júlio Cezar Garcia é jornalista e um dos fundadores do Jornal da Segunda