Nos meus tempos de repórter em São José do Rio Preto, encerrados recentemente, quando me aposentei e resolvi voltar à esta terrinha querida, convivi com personagens inesquecíveis e suas histórias deliciosas, que transformei em crônicas no jornal daquela cidade.
Uma dessas histórias, tinha o então governador Paulo Egydio Martins e um maestro da cidade como personagens. O maestro, conhecido pelo apelido de Mestre Boca, era muito popular e querido em Rio Preto. Ensinava percussão e sobrevivência a adolescentes em situação de risco.
Narra a lenda que Paulo Egydio visitava a região e foi recebido em Rio Preto com feijoada gorda e uísque fino em reunião com autoridades da região. Quando o garçom foi lhe servir uísque, o governador, com aquele seu estilo teatral, não perdeu oportunidade de fazer média com os nativos:
- Como legítimo caipira, quero cachaça.
O anfitrião, aliviado, mandou recolher o uísque. Paulo Egydio tomou quatro ou cinco doses da cachaça envelhecida em barril de carvalho. Muito além do que era acostumado.
A recepção contava também com uma fanfarra de rapazes e moças, ensaiada pelo regente Mestre Boca. Paulo Egydio engraçou-se com as meninas e ficou íntimo do regente.
O médico Wilson Romano Calil, prefeito de Rio Preto na primeira metade da década de 1970, estava no evento e, com seu olho clínico, percebeu que após a quarta dose o governador já não se governava. O médico, discretamente, recomendou-lhe uma soneca. Paulo Egydio cedeu. Antes de se afastar, espichou uma última olhada para as meninas da fanfarra e, em seguida, ordenou com veemência:
– Mestre Boca, assuma o governo do Estado na minha ausência!
O músico, que havia percebido a frustração de alguns dos presentes quando o uísque foi recolhido, olhou com autoridade para o chefe de segurança e deu a primeira ordem oficial:
– Tragam o uísque de volta e sirvam!
A festa recobrou animação. Autoridade reconhecida, Mestre Boca mandou vir o piloto do helicóptero de Paulo Egydio:
– Comandante, dê uma voltas com as meninas da fanfarra.
E assim se fez.
Reza a mesma lenda que, naquele dia, um governador foi verdadeiramente amado. O outro, dormia.
Júlio Cezar Garcia é jornalista e um dos fundadores do Jornal da Segunda