Era o Dia da Mentira, 1.o de abril de 1983.
A revista inglesa New Scientist entrou na brincadeira e publicou que dois biólogos de Hamburgo, na Alemanha, haviam cruzado células de tomateiro com as de boi. Os editores da Veja, em São Paulo, acreditaram e repercutiram a informação como se fosse verdadeira. Deram até nome para o subproduto da pesquisa: Boimate.
Algumas dicas ao longo do texto alemão insinuavam aos leitores que se tratava de piada. Os nomes dos biólogos, por exemplo: Barry MacDonald e William Wimpey, referindo-se às duas maiores redes de fast food na época (McDonald’s e Wimpy’s). E a cidade do evento: Hamburgo, para associar com hambúrguer. Nem essas dicas levaram a revista brasileira a desconfiar da brincadeira, em sua edição de 27 de abril, quando publicou nota com elogios ao fato: “A experiência dos pesquisadores alemães permite sonhar com um tomateiro do qual já se colha algo parecido com um filé ao molho vermelho”.
A gafe acabaria cobrada em junho daquele ano pelo jornal O Estado de S. Paulo, na sequência de atritos jornalísticos-editoriais entre o Estadão e a Abril. Em 6 de julho a revista admitiu: “Tratou-se de lastimável equívoco.”
A imprensa critica, com frequência, os erros, equívocos ou inadequações de personalidades e órgãos públicos ou privados, mas costuma ser muito econômica ao assumir seus próprios deslizes. Sejam erros ou apenas descuidos. Alguns muito engraçados. Por exemplo, o do Jornal do Brasil: “A nova terapia traz esperanças a todos os que morrem de câncer a cada ano.” Outro: “Ela contraiu a doença na época em que estava viva.”
E tem mais, para resgatar apenas alguns:
O Globo: “Apesar de a meteorologia estar em greve, o tempo esfriou ontem intensamente.”
O Dia: “Prefeito do interior vai dormir bem e acorda morto.” Outro: “A vítima foi estrangulada a golpes de facão.”
Extra: “Cadáver encontrado morto dentro do carro.” Outro: “Os sete artistas compõem um trio de talento.”
Tribuna das Monções: “Saco de lixo atira em motorista e foge.”
Já citei um dos meus erros graves. Vereadores haviam aprovado uma moção de pesar pela morte de um comerciante da cidade. E eu, descuidadamente, escrevi que a Câmara havia aprovado uma moção de aplauso. No dia seguinte, o jornal publicou meia página sobre “as grandes contribuições” do comerciante ao desenvolvimento da cidade.
Mas, mantenho a Folha como autora da maior mancada entre as principais.
E o “Erramos”, inesquecível: “Diferentemente do que foi publicado à página 5-3 da edição de ontem da Ilustrada, Jesus Cristo não morreu enforcado, mas crucificado”… !!!
Quando jornalista erra, nem Cristo se salva.
Júlio Cezar Garcia é jornalista e um dos fundadores do Jornal da Segunda