Vivo recordando fatos ligados à vinda de Vinícius de Morais a Assis, para um inesquecível show no início da década de 1970. O evento reuniu, ainda, Toquinho, Marília Medalha e Trio Mocotó, na quadra do Recreativo.
Foi um show de circuito universitário, que o diretório acadêmico da Faculdade de Educação Física trouxe para Assis.
Hospedamos a trupe na fazenda do então deputado federal Santilli Sobrinho, nosso querido Zeca Santilli, ex-prefeito.
Os artistas gostaram da fazenda e resolveram ficar um dia a mais.
Acabamos promovendo um animado rachão de futebol no gramado em frente à sede da propriedade.
Vinícius, sempre com o copo de uísque à mão, só assistia. Estava casado com Gesse, a baiana que a gente observava de longe e suspirava: “Deus conserve e não nos desampare!”
Eu já era repórter, juvenil, foca, no jornal da cidade, mas não podia fazer entrevista, a pedido do empresário dos artistas. Queriam sossego e distância da imprensa. Mas, o editor do jornal insistia que eu fizesse uma reportagem com o Poetinha.
Eu me retraía diante da firmeza do empresário: “Nada de entrevista!”
O grupo gostou do sossego da fazenda e da molecada que havia promovido o show no sertão do Paranapanema.
Comentei com a Gesse a exigência do jornal.
Ela riu, compreensiva.
Pouco depois, com um sinal discreto por trás do poeta, me chamou:
– Peça ao Toquinho que cante a canção dos vícios. Ninguém conhece.
Os amigos do poeta, nos anos 60, no Rio de Janeiro, haviam criado essa musiquinha para provocá-lo, quando chegava aos bares. Depois do rachão, falei com Toquinho. Ele pegou o violão e cantou, com a melodia da canção infantil “Se esta rua fosse minha”.
“Se eu tivesse/ Se eu tivesse/ Muitos vícios/O meu nome/ O meu nome era Vinícius.”
Todos riram.
Vinícius balançou a cabeça com falso desdém.
Toquinho continuou: “Se meus vícios/ fossem muito imorais/Eu seria o Vinícius de Morais.”
Até então eu não sabia se a “homenagem” dos amigos do Rio era verdadeira ou se Toquinho a havia improvisado na turnê.
Passados alguns anos, a amiga jornalista Monise Centurion emprestou-me o DVD “Vinicius” e, nele, a atriz Tonya Carrero canta a musiquinha dos vícios imorais. Tonya fazia parte do grupo de amigos que recebiam o Poetinha com aquela provocação.
Vivo contando essas passagens com uma emoção tola, como se tê-las vivido me tornasse parte da biografia do poeta.
Besteira. Tolice de quem não tem brilho próprio.
Júlio Cezar Garcia é jornalista e um dos fundadores do Jornal da Segunda