Escritor assisense lança o livro “Do Telégrafo à Internet” nesta quarta-feira

O jornalista e escritor assisense Marcos Barrero lança nesta quarta-feira, dia 9 de dezembro, em São Paulo, o livro “Do Telégrafo à Internet” – uma biografia de um dos pioneiros das telecomunicações no Brasil.

barreiro

Dary Avanzi começou sua trajetória em Assis, aos 13 anos, em 1956, na função de telegrafista da Estrada de Ferro Sorocabana. A partir de então, teve a oportunidade de operar desde o telégrafo até à internet rápida dos dias atuais, em seis décadas de atividade ininterrupta. Hoje, aos 73 anos, esse pioneiro e fundador do Grupo Avanzi, por fim, vê sua trajetória eternizada numa biografia, na qual sua história se mistura à da própria comunicação no país.
Marcos Barrero – que ainda este ano lançará o livro de poesias “Para machucar meu coração” (Editora Patuá)  – apresenta na obra a fascinante trajetória de Avanzi.

Ele sempre exerceu atividades voltadas para a área de telecomunicações, começando com a telegrafia, da qual é especialista e sobre cujo tema até hoje dá palestras.
Avanzi acompanhou diversos momentos nos quais tanto a telegrafia como os outros meios de comunicação fizeram história no país e no mundo.

Na era digital, viu de perto todas as pesquisas para o funcionamento do sistema de fax, telex por micro-ondas, transmissões por reflexão lunar (usando a lua como antena), comunicação via satélite e monitoramento de várias naves espaciais. Alcançou ainda o desenvolvimento do robô mecânico que se encontra em Marte, denominado Curiosity/Rover, responsável por transmissões via rádio por teclado através de software específico.
Para o biografado, a obra é um presente para os apaixonados por telecomunicação. “O intuito do livro é contar, não apenas a minha trajetória profissional, mas a da própria comunicação, mostrando tudo que já enfrentamos ao longo dos anos e, principalmente, o caminho percorrido para chegarmos até aqui”, conta.

O livro conta ainda com páginas ilustradas por imagens de documentos profissionais de Avanzi e equipamentos operados ao longo de sua carreira.
Segundo o autor, o livro tem uma grande importância histórica para o setor. “Dary é uma das personalidades mais emblemáticas da história da telecomunicação no Brasil e no mundo. Ele é uma referência na área e sua experiência merecia um registro à altura de sua contribuição para o universo das telecomunicações”, finaliza Barrero.
O evento, que ocorre em São Paulo, contará com a presença de Dary Bonomi Avanzi e do autor Marcos Barrero.

TRECHOS:

O amigo de Assis
“Em meados dos anos 1960, nos tempos em que seus hábeis dedos manipulavam os telégrafos com fio da Sorocabana em Presidente Prudente, Dary arrumou um amigo em Assis – o colega telegrafista João Carrasco Neto. “Trafegávamos todos os dias pelo telégrafo. O Carrasco era um dos telegrafistas mais rápidos que conheci na transmissão. Corria muito. Sua média de produção era de pelo menos 50 palavras por minuto. Poucos conseguiam manter a mesma velocidade que ele impunha no recebimento de uma mensagem”, recorda Dary.

Em 1965, Dary afivelou as malas para São Paulo. Foi tamborilar a maquininha na central de telégrafo da estação Júlio Prestes. Carrasco aparecia por lá.

Mais tarde, o setor foi transferido para o bairro da Barra Funda. “O João foi um companheiro muito bom. Fui duas vezes almoçar na casa dele. Morava no bairro do Imirim, na zona norte de São Paulo. O filho Walcyr devia ter na época uns 15 anos”, conta Dary. Anos depois, o amigo montou um bar na Rua Clélia, na Lapa.

Dary frequentou pouco o balcão da Lapa. A última vez em que esteve com João não foi uma visita agradável. O amigo estava doente, num leito da Santa Casa paulistana, no bairro de Higienópolis.

Era 1975. Quando Dary abriu a porta do quarto, João, deitado na cama, se espantou e disse:
– Esperava qualquer um, menos você, Dary.
– Por quê?
– Você tem quatro empregos, fica difícil achar tempo pra me ver.
Foi a última vez que os amigos se encontraram.

Em 1976, Dary pediu demissão da Fepasa e nunca mais ouviu alguém falar em João Carrasco. “Só soube da morte dele muito tempo depois, pelas colunas que seu filho, Walcyr Carrasco, o famoso autor de novelas da Rede Globo, escrevia na Veja”.

Walcyr, autor de novelas como Xica da Silva, na TV Manchete, e O Cravo e a Rosa, A Padroeira e Amor à Vida, na Rede Globo, tinha 64 anos e vivia em São Paulo em 2015. Um dos irmãos de Walcyr, Ney Carrasco, era Secretário de Cultura de Campinas na gestão 2012-2016. Certa vez, Ney remeteu a Dary uma foto da Sala São Paulo, instalada exatamente no local em que o empresário trabalhou na estação Júlio Prestes. No verso da foto, a inscrição: “Dary, para matar as saudades”. O terceiro irmão, Ailton, é químico e vivia em Santos.
Em suas crônicas, volta e meia, Walcyr Carrasco homenageava o pai: “Meu pai não era dado a expansões carinhosas. Talvez porque fosse criado em um meio em que homem não expressava os sentimentos. Talvez porque nunca tenha recebido muito carinho de seu próprio pai. Saiu de casa aos 13 anos e foi morar com um irmão. Teve um problema nos olhos e quase ficou cego, ainda adolescente. Mais tarde, quando quis continuar os estudos, já estava casado e com filhos. Era ferroviário, telegrafista”, escreveu Walcyr no livro Pequenos Delitos e outras crônicas, lançado em 2004.  “Meu pai era um homem simples, mas teve grandeza. E, o mais importante, ele torcia por mim. Para mim, esse é o significado maior de um pai”.

Em Presidente Prudente, Dary convive com locutores esportivos, como José Italiano e Joseval Peixoto
“Em Presidente Prudente, os telegrafistas eram concentrados e “exportados” para outros lugares, de acordo com as necessidades da Sorocabana. Uns cobriam os outros em ausências, licenças médicas e férias. Conforme a regra, Dary foi deslocado para Teodoro Sampaio em novembro de 1960. Alcançou o lugarejo a bordo de um jipe, por rodovia improvisada, formada pelos sulcos que se abriam na terra vermelha para a colocação dos trilhos. Sua missão era assumir o posto de chefe de estação por três dias, liberando o titular, Bueno Arruda, para comparecer às urnas em Presidente Prudente.

Havia eleição para a presidência da República.

O chumbo era trocado entre Jânio, Adhemar e marechal Henrique Baptista Duffles Teixeira Lott.

Jânio era o homem da vassoura, Adhemar acenava com um trevo e Lott brandia uma espada.

Por que o menino foi escolhido na emergência?

Era menor de idade e não votava. A ferrovia ainda estava em construção. Esse detalhe, por sinal, desfaz um engano: os trilhos não foram inaugurados em 1960, como consta erroneamente em alguns registros históricos, mas sim em 1961.
Na época, a população de Teodoro Sampaio era pequena e ocupava algumas casas em ruas de chão batido. O lugarejo pertencia ao município de Marabá Paulista. A estação ficava num ponto ermo e a caminhada até o centro era longa. Houve muita festa na chegada do primeiro trem em 1961. Foi preciso requisitar os serviços da banda de Presidente Venceslau – a chamada Corporação Musical Santa Cecília, que existe em centenas de cidades brasileiras.

Dary foi testemunha ocular da história. Teve um dia agitado. Participou da inauguração de uma estaçãozinha na região, chamada Washington Luís, e, em seguida, pegou um trem que o conduziu para o evento em Teodoro Sampaio.

Guarda até hoje um retrato, muito apagado, de uma casinha de cuja janela assistiu às comemorações.
O telégrafo tirou Teodoro Sampaio do completo isolamento. A comarca estava ilhada no fim do Estado de São Paulo, no bico do mapa, a dois passos do Mato Grosso. Sem telefone e sem rádio, foi salva pela  engenhoca e deixou de ser incomunicável.

O primeiro aparelho utilizado no lugarejo era igual ao modelo pioneiro, criado em 1840. Durou muito. Serviu durante 140 anos nas ferrovias e foi extinto entre 1978 e 1980.
Nos modorrentos dias e noites do lugar, Dary manteve plantão para qualquer emergência, recebendo ou enviando um telegrama. A correspondência podia ser de qualquer gênero – fosse um aviso de morte, de casamento ou de visita à mãe distante.  O destinatário recebia o telegrama em casa. O comércio, os bancos, a polícia – todos se comunicavam via telegrama. O Bradesco, toda tarde, recorria ao telégrafo para enviar as ordens de pagamento. Digitava-se de tudo naqueles teclados nervosos. Desde o comerciante, solicitando à fábrica Cica o envio de nova remessa de goiabada, até recados de amor, a respeito dos quais os discretos telegrafistas mantinham total sigilo. Havia atrasos, principalmente se o telegrama viesse de longe. No caso de falecimento, com um texto dizendo “venha depressa, mamãe morreu”, bastava olhar no verso para descobrir que o defunto estava enterrado há muito tempo. Alcançava-se, no máximo, a missa de sétimo dia.     Adaptado à Presidente Prudente, conviveu com um pessoal cujas vozes seriam ouvidas nas melhores rádios e emissoras de TV do país: Flávio Araujo, Chico de Assis, Zé Italiano, Joseval Peixoto e Tadashi Kuriki – o primeiro narrador esportivo japonês do país, advogado, deputado estadual (1986) e federal (1994). Houve um momento em que todos estavam ali, juntos, iniciando a carreira nas rádios de Presidente Prudente.

A cidade, afinal, é conhecida como uma espécie de fábrica de locutores. Nos sete anos em que viveu no extremo oeste paulista, Dary frequentou os mesmos lugares que os futuros astros do microfone. Iam de bar em bar: Oásis, Shoyama e H (hoje H2). “Quando cheguei à Prudente, o Joseval Peixoto e o Flávio Araújo estavam mudando para São Paulo, Conheci o repórter Chico de Assis, que mais tarde se tornaria dono de rádio em Poços de Caldas”, lembrou Dary.
José Italiano havia iniciado a carreira em São Carlos, onde nasceu, e se mudara para o oeste paulista atrás de novas oportunidades na carreira de locutor esportivo. Era titular do microfone da rádio ZYR-84 de Prudente. Na época, os dois times da cidade – Prudentina e Corinthians – estavam no auge e brilhavam na Primeira Divisão paulista.

José Italiano era chamado de “garganta de aço” e “homem das mil e uma vozes”. Fazia sucesso. “Frequentávamos os mesmos bares e inclinávamos um copo”, divertiu-se Dary ao relembrar a amizade. Típico perfil de europeu, alto e loiro, o garoto telegrafista passou a ser chamado de Americano pelo radialista. A dupla se separou e só tiveram alguns breves reencontros em São Paulo. “Um dia, me encontrei com ele na Avenida Tiradentes e conversamos rapidamente. Depois, ficou famoso, incorporou a figura do torcedor corintiano, virou procurador de Rivelino e nas poucas vezes que nos cruzamos houve apenas aceno de mão e cumprimento com a cabeça”.
Dary chegou a fazer bicos nos jornais e nas rádios da cidade. “De duas em duas horas, recebíamos notícias, via Código Morse, das agências internacionais UPI, France Press, Ansa, Tass e da brasileira Sport Press. Transcrevíamos em laudas e passávamos para o redator do jornal ou  locutor do jornal falado”, conta o empresário. “As principais notícias da época estão gravadas na memória – Fidel Castro toma o poder de Fulgencio Batista em Cuba, piora a guerra fria Estados Unidos e Rússia, a agonia do Papa João XXIII, a execução de Caryl Chessman na câmara de gás em 1960, o assassinato de John Kennedy em 1963, as guerras do Camboja e do Vietnã”.
Na mesma época, Adhemar de Barros chegou a Presidente Prudente para participar de um comício. O presidente local do Partido Social Progressista, Antônio de Almeida dos Santos, montou uma recepção de gala para o governador em sua própria casa. Dary, adhemarista de carteirinha, compareceu ao evento de campanha.

Então um amigo, entusiasmado com a atmosfera eleitoreira, gritou no meio da multidão. “Governador, eis aqui um conterrâneo do senhor”. Adhemar, engolfado por correligionários, respondeu: “De que família?”.  E Dary abriu a boca: “Sou neto do Bonomi, da fazenda Redenção”. O governador deu uma gargalhada, falando: “Oba, meu cozinheiro!” Deu um abraço em Dary e o colocou ao seu lado, na mesa em que atendia, um a um, os eleitores. Pediu dois copos e brindaram o encontro. Dary inclinou o copo e entornou tudo de uma só vez.

O governador gostou: “Menino, você é bom nisso”.

E o telegrafista respondeu: “Um dia, chego lá”.

Dary residiu em Presidente Prudente durante sete anos e depois foi para São Paulo em 1965.”

Serviço:
Local: Espaço do Bosque – Rua Werner Von Siemens, 111, Lapa de Baixo, São Pauo
Data: 09 de dezembro de 2015, 19h

O LIVRO
Ficha Técnica
Título: Do Telégrafo à Internet – A trajetória de Dary Bonomi Avanzi
Autor: Marcos Barrero
Idiomas: Português/inglês
Edição: 1ª
Nº de págs.: 144
Editora: L2M/SP
Preço: RS 49,90

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