Ainda não há informações sobre o translado do corpo do escritor assisense David Labs, que morreu na tarde desta segunda-feira, dia 5 de abril, na cidade do Rio de Janeiro, onde estava trabalhando há alguns meses.
Informações de amigos, postadas em redes sociais, explicam que ele teria sido vítima de um AVC – acidente vascular cerebral. Levado ao hospital, não resistiu. O corpo, levado para o Instituto Médico Legal, seria submetido ao exame necroscópico, antes de ser liberado para o transladado até Assis nesta terça-feira. No entanto, ainda não há previsão para o horário de chegada do corpo e informações sobre o local do velório e sepultamento.
David Labs era escritor premiado de várias obras. Também era sociólogo e professor universitário, além de atuar como articulista. Nascido em Assis, venceu o prêmio AFALESP de 1997, com o conto “O Homem Só” e, nas edições seguintes, classificou as obras “O Caso dos Filhos de Job” e “Cotidiano”, garantindo o segundo e terceiro lugares nos certames. Publicou recentemente dois contos em uma coletânea e “A Última Carta” foi seu primeiro romance.
Último texto – No dia 21 de março, rabiscando um ensaio de análise de conjuntura política nacional, em sua página pessoal de uma rede social endereçada aos amigos, Lab fez uma análise do atual e conturbado cenário no artigo intitulado “As forças oportunistas do golpe”, e opinou:
“Os amigos, de forma obliqua, solicitam meu posicionamento neste momento crucial do Brasil. Como sabem todos, venho de longa experiência política, por vezes trabalhando para a direita, outras para a esquerda extrema. Mantive sempre o foco em minha condição de técnico, o que não me impede de expor minhas opiniões como cidadão e observador sem desejar que todos estejam alinhados. Política e fé são experiências pessoais. A fé está ai e não sou padre ou pastor para opinar. Na verdade, persigo hoje uma posição extremamente laica. Quanto à política, escrevo em consonância com minha formação e convicção. Não sou ingênuo, infelizmente, e não poderia deixar para dizer depois, ao acordar, como fez o príncipe de Calderón De La Barca em A vida é Sonho. “O que houve enquanto eu dormia?”, perguntou o jovem nobre. Não vou ceder às ilusões. Então, vamos lá.
Em edição de ontem, 20, a articulista do jornal português “P”, Sylvia de Debossan Moretzsohn, faz a seguinte análise, falando de Sergio Moro em artigo intitulado A Justiça Partidária e o Limiar do Golpe no Brasil: “(…) o juiz avançou até ultrapassar todos os limites: primeiro, no dia 4 de março, no episódio do abuso na condução coercitiva do ex-Presidente Lula para depoimento – pois esse recurso só se aplica em caso de resistência ao mandado judicial –, depoimento estranhamente realizado no posto da Polícia Federal no aeroporto de Congonhas, o que levantou suspeitas sobre a intenção de conduzi-lo, já preso, a Curitiba, sede da Lava Jato; e agora, com a flagrante ilegalidade do vazamento de conversas telefônicas (…) logo após o anúncio de que o ex-Presidente seria nomeado para a Casa Civil. A ilegalidade do ato é indiscutível por dois motivos: porque um juiz de primeira instância não poderia grampear as ligações da Presidente a não ser com autorização do Supremo Tribunal Federal; e porque a ligação em questão foi feita já quando esse mesmo juiz havia determinado a suspensão das escutas a Lula. Portanto, obviamente não poderia divulgá-la.”
Para que a intenção não se perca. A análise é de um veiculo de comunicação português.
O jornal alemão Der Spiegel: avalia “Lula não tem milhões na Suíça, como o poderoso presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Ele é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Um juiz do Supremo Tribunal de Justiça referiu-se a ele como criminoso. Mas isso não impede que Cunha assuma a presidência da comissão, que é responsável pelo impeachment da presidente. Nesta honrosa comissão (ironia do articulista? – grifo meu) (…), senta-se, entre outros, um ex-governador de São Paulo, que foi condenado na França por acusações de corrupção, mas não foi entregue pelos brasileiros (…). O fato de tais figuras poderem dizer palavras decisórias (…) destrói a legitimidade de todo o processo. Seguidores de Lula alertam sobre estar acontecendo um golpe frio contra a democracia brasileira. Vinda do vento, essa preocupação não é.”
A publicação alemã fala de golpe, não de investigações contra o ex-presidente que, a rigor, seguirão seu curso. Fala dos perigos que assolam a Democracia, não de simpatias a um ou outro representante das excrescências, ainda que a verdade contida nas ultimas linhas do artigo seja inquestionável.
Temos corruptos de estimação.
A revista britânica The Economist sugere que Moro “pode ter ido longe demais”. El Pais, da Espanha, observa sobre Catta Preta: “Mais de um ano atrás, antes das eleições que Rousseff ganhou novamente, recomendava: ‘Ajude a derrubar Dilma e volte a viajar para Miami e Orlando. Se ela cair, o dólar também cairá’. ‘Fora Dilma’, escreveu, ao lado de uma selfie, em uma manifestação. E, recentemente, proclamou em seu Facebook: ‘Lula pode ser ministro da Justiça. Estamos perdidos’”.
São exemplos de como estão os olhares estrangeiros. Independente das posturas raivosas dos dois lados da polarização, há uma sintonia entre os veículos de comunicação internacionais. Vêem o golpe de maneira isenta, a manipulação midiática e a politização do judiciário. Sobre o uso do caso Watergate, numa tentativa desesperada de justificar-se perante os brasileiros, normalmente adeptos de “cases” norte-americanos, Moro tem seu argumento desmontado pelo portal Huffingtonpost: “A ironia é que, no caso norte-americano, foi Richard Nixon quem colocou escutas na Casa Branca. E por ter grampeado diálogos entre ele e diversos interlocutores, (…) foi forçado a renunciar à presidência dos Estados Unidos. Seguindo a lógica em “US v. Nixon, 1974”, Moro deveria pedir afastamento da operação Lava Jato.”
Que um golpe é evidente, é fato para aqueles que realmente se dediquem a avaliar seriamente. Não apenas sob o ponto de vista dos incômodos de classe, mas sob os gritantes conceitos configurados no pais. Sabemos que o Brasil não aprecia pobres, negros, gays, famílias que não se enquadram nos padrões heterossexuais (guardem isso para o desfecho). Ou mulheres em posições de poder. A forma como a Presidente, Chefe de Estado sob quaisquer analises, é tratada nas redes sociais, mesmo antes da colocação dos arames farpados nos fronts, deixa nuas as pretensões arrogantes de um pais que vende a imagem de solidário, mas que não foi capaz de se unir em torno de causas como a reforma política. Não somos capazes, em nossa extrema maioria, de avaliar as correlações entre Brasil e a zona do dólar. Nem vou falar da posição brasileira no BRICS (dêem um Google ai) e nas pressões atreladas aos interesses da moeda americana.
É mais divertido bater panelas a pesquisar os interesses internacionais.
Perdemos, neste momento de polarização, pela arrogância, hipocrisia ou desejo extremo de sermos todos elites, a grande oportunidade de mudar o pais pelo veio da coalizão de idéias, da convergência nos mercados local e estrangeiro. Somos motivos de gozação e isso nos fragiliza. Está claro, nacional e internacionalmente.
O pior virá das pupas que se desenvolvem no esgoto quente, alimentadas pelas ofensas de ambos os lados. Estamos tão cegos de ódio que nem percebemos a terceira via. Em razão da polarização, poucos percebem a ascensão de uma ala extremamente conservadora. De centro, e liderada por um sujeito que deixa claro o que eu disse quatro parágrafos acima (aconselhei que guardassem para o desfecho), não demora para nos colocar em crise ainda pior. Será o império do Reich de direita. Extrema.
A qual dos lados esta facção estaria aliada neste principio de projeto de “arquitetura da destruição”?
Não vou responder.
Termino aqui”.
Assinado: Davi Labs
Davi Labs morreu no Rio de Janeiro, ao lado da amiga Dagmar