Quando Carlos Drumond de Andrade, em 1942, publica originalmente o poema “Jose”, acredito que ele jamais pensou o quanto o texto seria contemporâneo.
O poema é estruturado a partir de indagações, retratando o medo e a insegurança de um indivíduo na cidade grande.
Acredito, que neste momento frente à pandemia que anuncia caos, sentimentos negativos afloram com intensidade.
O cenário social é caótico. Vejamos:
• 50% da população do país residem em áreas que não contam com rede de esgoto;
• Milhões de brasileiros moram em áreas de risco, sendo a população de menor renda a mais vulnerável.
• Mais de 40% dos trabalhadores ocupados estão na informalidade;
• 5% das crianças e adolescentes em idade escolar estão fora das salas de aula;
Daí a pergunta que não quer calar: já antevendo a falta de recursos para investimentos na área social, precariedade vivida há décadas, será o COVID19 o vilão dos novos tempos?
São décadas de descaso com parcela expressiva da população, em todas regiões do país.
Vivendo à mercê da própria sorte pelas ruas, morando em palafitas, morros e casebres, essas pessoas passam invisíveis aos olhos do poder público.
O trágico disso, é ver que num toque de mágica o dinheiro jorra.
Ótimo. Fico feliz vendo famílias assistidas pelo alto grau de sua vulnerabilidade.
Porém, isso não passa de engodo frente as reais mazelas de parte da população.
Essas mesmas pessoas há anos sofrem pela indiferença dos governantes. Interesses escusos prevaleceram e o “jeitinho brasileiro” firmou -se como prática constante. Salve -se quem puder.
Roubos, desvio de recursos, impunidade, são alguns dos elementos contribuidores do mal que há décadas agrava nosso país.
Senhores governantes não somos tolos. Não tomem a pandemia como única vilã.
Omissos, irresponsáveis, insensíveis, abram os olhos e a mente.
Os filhos desvalidos deste país clamam por direito e dignidade, e não por caridade.
O que o poder público propaga como mérito, ao instituir programas de ajuda, não passa de obrigação. Além de sua omissão vergonhosa, sempre lucrou com
altos juros e impostos.
Chegou a hora da devolução.
A natureza é sabia. Ela sempre busca o equilíbrio, ainda que lamentavelmente, os mais pobres paguem pela conta.
O autor do artigo, Thiago Hernandes de Lima, é professor de Geografia, ex-vereador e colaborador do JSOL – Jornal da Segunda On Line