No calendário litúrgico da Igreja Cristã, expressão religiosa e cultural do mundo ocidental, esta semana é considerada “Santa”. Fim de Quaresma, ou seja, do período penitencial, com o desfecho de cenas da vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus, o Cristo. Seu símbolo: a uva e o trigo, frutos da mãe-terra, que, morrendo, ressurgem como esperança. Afinal, para germinar, faz-se necessário, antes, morrer e, depois, ressurgir para nova vida.
Não importam as diferenças religiosas ou não. A experiência de estar vivo é, em si, um milagre, cercada de mistérios. A crucificação de Jesus, como Deus encarnado, aos olhos da Fé, retrata a maximização da crueldade humana como resposta aos atos do amor de Deus. Porém, a esperança é uma vingança, que desafia a tudo que semeia a morte.
O amor ainda é uma semente que germina silenciosa e irreversivelmente no corrosivo solo da maldade. A maldade é sempre travestida de egoísmo, de corrupção e de toda sorte de erva daninha espinhosa, que atenta conta a vida.
A coroa de espinho, que faz sangrar a cabeça de Jesus, naquela cruz do Calvário, apresenta-se como escarnio a zombar da vida. Debocha da ética, que sustenta as relações humanas. Corrompe instituições e valores, que dão sentido à vida individual e coletiva.
Porém, de lado um lado, a crucificação é símbolo da morte do amor, que a si se nega para servir; do outro, a vitória da vida é sustentada pela Fé na Ressurreição. Assim, a Crucificação representa o Jesus histórico semeando a bondade em meio aos espinhos que dilaceram a alma humana e a Ressurreição, a vitória do Cristo da Fé contra tudo que semeia a Morte.
A força da Ressurreição sustenta a todos aqueles que lutam por um mundo solidário e pacífico, ou seja, por um mundo acolhedor e mais justo. Os atos dessa luta atualizam o ato sacrificial de Jesus e o grito de vitória da vida sobre morte. Claro, cada qual a sua maneira, independentemente do credo. O popular ateísmo também não deixa de ser uma forma de credo.
Enfim, o milagre de estar vivo é, também e de alguma forma, o de semear sinais do amor de Deus. De um Deus morto em Jesus e ressuscitado na experiência da Fé em Cristo. Daí o grito de vitória do Apostolo Paulo (I Coríntios 15:55): “Onde está, ó morte, a tua vitória? Eis o mistério que faz do fraco, forte e do vencido, vencedor.
Rubens Galdino da Silva é professor e jornalista MTB/SP- 32.616