Em uma noite típica de São José do Rio Preto, quente e abafada, abriguei-me na rede do quintal em busca de uma brisa.
O muro baixo trazia ruídos da casa ao lado. Havia inquilinos novos. Naquela noite, davam uma festa.
Os vizinhos anteriores tinham sido problemáticos. Alternavam insultos e sopapos ruidosos. Suas festas varavam madrugadas, som alto, repertório baixo. As músicas rimavam travesseiro com “desespeiro”.
Os novos vizinhos também cantavam e falavam alto. Mas cantavam Chico Buarque, Tom Jobim, Edu Lobo, Vinícius, Geraldo Azevedo, João Gilberto, Paulinho da Viola… Na solidão, vi-me bem acompanhado, como em uma serenata.
Acho que cochilei. Quando acordei, eles haviam reduzido o volume, mas continuavam com a cantoria e animação. Passava da meia-noite. Arrastei a cadeira até o muro, subi e fiz uma advertência:
– Vou chamar a polícia se continuarem a cantar baixo.
Creio que ficamos amigos. O novo vizinho era Menê Crozara. Sábado passado, ele lançou um segundo CD, com sambas de Fernando Marques. Fui ver o show no Passatempo. E voltei feliz como o trabalho desses artistas da noite, cada vez mais sem espaço nos bares da cidade.
Júlio Cezar Garcia é jornalista e um dos fundadores do Jornal da Segunda