Vítima de diabetes, “Pingo D’água” espera por cirurgia no SUS pra voltar a enxergar

Aposentado do INSS como radialista e afastado da Prefeitura Municipal de Assis -onde foi contratado  em cargo de comissão pelo amigo e agora prefeito José Fernandes- Pedro de Fauto Andrade, o famoso locutor sertanejo ‘Pingo D’água’, de 66 anos de idade, não consegue mais enxergar. Ele é mais uma vítima do diabetes, mas ainda encontra força para esbanjar confiança e otimismo no resultado da tão esperada cirurgia, que ainda não foi agendada pelo SUS.

“Reconheço ter abusado. Parei com a medicação, abusei tomando umas latinhas de cerveja e consumindo muita comida gorda”, admite, com o jeito sempre sincero de se comunicar, o radialista que passou a precisar do apoio de uma bengala de madeira para caminhar de um cômodo ao outro da casa onde mora com sua companheira, Maria Aparecida, no Parque Universitário.

O radinho de pilha, agora é o seu companheiro de todas as horas. “Ligo de madrugada e só desligo à noite. Em alguns momentos do dia, fico sentado na sala ouvindo os programas de televisão imaginando as cenas”, conta ele, emocionado.

No entanto, nem mesmo a ausência da visão foi capaz de roubar a alegria do locutor, que iniciou sua carreira na Rádio Difusora de Assis em 1986. Na época em que as emissoras AM reinavam nos índices de audiência, Pingo D’água se transferiu para a Rádio Cultura AM, onde comandava as madrugadas no prefixo 1.020, com muita irreverência e música ‘caipira’.

“Prega fogo maquinista, balança a roseira e vamos chacoalhar o pé do limoeiro” eram alguns dos jargões usados por ele entre um sucesso e outro de Belmonte e Amaraí, Léo Canhoto e Robertinho, Milionário e José Rico, entre algumas de sucesso da música sertaneja raiz.

“Certa vez, na Rádio Cultura, quando apresentava um programa da meia-noite às seis da manhã, eu anunciei o falecimento de uma pessoa atropelada por um ônibus na rodovia. Às três horas, o corpo chegou ao necrotério e um ouvinte, que trabalhava no IML, telefonou para a rádio informando o nome da vítima. O sobrinho do homem atropelado, morador do bairro Água Bonita, ouviu a notícia no meu programa quando tirava leite e percorreu cinco quilômetros pelos sítios a cavalo para avisar seus familiares sobre a morte do tio”, se recorda Pedro de Fauto.

Antes do rádio, Pingo D’água se arriscou como cantor. Formou dupla com o saudoso ‘Piracaia’, que  virou nome do Cinema Municipal de Assis. “Cantamos juntos nove anos. Quando o Piracaia morreu, acabou a dupla e o sonho de ser cantor”, contou ele ao escritor Márcio Alexandre da Silva.

Mesmo com o fim da dupla, ele decidiu não largar o microfone. Deixou de cantar para se arriscar no rádio, alegrando milhares de ouvintes, que logo se tornaram fãs.

Ao mesmo escritor, Pedro Andrade explicou a origem do apelido, dado pelo ex-parceiro Piracaia: “Quando cai a chuva na folha de inhame a água fica na folha, formando os pingos d’água”, lembrou.

Pedro Andrade orgulha-se de ter recebido uma indicação para substituir a saudosa cantora Inezita Barros no comando de um programa de música sertaneja na TV Cultura. “Só o fato de ter sido lembrado por um radialista de Marília já me deixou orgulhoso”, contou ele ao escritor Márcio Alexandre, anos atrás.

Aliás, a fama no rádio pode ter contribuído para o relaxo alimentar e, consequentemente, a doença que lhe tirou a visão: “Era convidado para festa todo final de semana e comia exageradamente demais”, reconhece.

Hoje, alertado e acompanhado pela companheira, Pingo D’água é obrigado a fazer uma dieta forçada. “Cortei a cervejinha e parei com as comidas gordas”, relata e complementa: “Como bem menos do que comia antes e tenho tomado a medicação prescrita pelo médico”, garante o radialista.

Numa entrevista ao colega de profissão e amigo Reinaldo Nunes, o Português, no programa ‘Acorda Assis’, na Rádio Interativa FM, Pedro de Fausto Andrade contou um pouco do seu drama e fez um alerta: “Se você tem diabetes, não descuide. É uma doença silenciosa e que mata aos poucos”, fala.

A falta da visão afastou temporariamente o locutor dos microfones, mas ele garante: “Enquanto Deus me der voz e saúde, trabalharei no rádio até morrer”, garante o irreverente Pingo D’Água.

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Pingo D’água aguarda por cirurgia

Foto: Nilson Gomes/Museu do Rádio Assisense

 

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